Entrevista com The Gift

19-07-2023

Coral é o novo projeto discográfico da banda The Gift, um álbum composto por 12 temas que contam com a colaboração de um coro clássico de 48 elementos, dos Pauliteiros de Miranda, do compositor Bernat Vivancos e do produtor Bogdan Raczynski.

A banda iniciou a digressão de apresentação do seu novo trabalho em 2022, tendo já passado por cidades como Leiria, Alcobaça, Faro, Albergaria-a-Velha, Castelo Branco, Coimbra, Porto, Lisboa, Bragança e Portalegre.

Quase a atingir o marco de 3 décadas de carreira, a banda originária de Alcobaça encontra-se a realizar uma digressão de verão com concertos em que para além das novas músicas revisitam os seus maiores êxitos como "Ok! Do you Want Something Simple?", "Driving You Slow", "Clássico", "Primavera" e "Fácil de Entender".

Após um verão de concertos, em novembro a banda realiza dois espetáculos nos coliseus de Lisboa e do Porto nos dias 18 e 23, respetivamente.

Sobre o novo disco e a nova digressão falámos com Nuno Gonçalves, músico, compositor, pianista, fundador e membro dos Gift.

Nuno, como tem sido o feedback a este vosso último álbum?

Tem sido muito bom, nós propusemos a fazer uma digressão perto de 30 datas por teatros portugueses e auditórios e correu muito bem. 95% dos teatros foram, estiveram esgotados, as pessoas ao princípio, estranham um pouco porque nesta digressão de apresentação do disco nós tocámos apenas e só canções do disco. Não houve qualquer tipo de precedência, era um concerto com um coro, clássico, é um disco específico, um disco especial, um disco diferente daquilo que os The Gift fizeram até à altura. Mas a verdade é que a primeira edição já esgotou, quer em loja, quer à porta dos espetáculos, os discos venderam-se todos. E felizmente continuamos a marcar, continuamos a marcar concertos, best discos especificamente, não só em Portugal, como também já fora. Vamos a Madrid apresentar esse próprio disco no dia 5 de agosto, a um dos maiores festivais de música clássica na vizinha Espanha, portanto, melhor é impossível.

Este é um álbum diferente, há muito tempo que tinham vontade de fazer este disco? A pandemia teve alguma influência também no lançamento deste álbum?

Teve alguma, quer dizer, nós fomos fazendo coisas, cada um no seu sítio, eu e a Sónia, fomos fazendo coisas... Já não sabíamos bem para o que era. Eu depois, já depois da pandemia, vou ver um concerto de música coral, que eu gosto particularmente de música clássica e música mais erudita, fui ver uma peça do John Cage à Casa da Música do Porto, que me tocou muito e eu propus à Sónia e propus ao Chico, precisamente isso, e que tal nós levássemos estas composições que fizemos entretanto, na pandemia, para este universo. E depois começámos a perceber que tínhamos muita coisa escrita em português, portanto o disco é quase todo cantado em português, só tem duas músicas cantadas em inglês, e isso casa muito bem com esta melancolia e esta força das vozes, das 48 vozes a cantarem em arranjos corais. E portanto foi assim que se desenhou mais ou menos o disco, mas sim, a base e a gênese vem da pandemia, sem dúvida.

Em alguma altura tiveram receio da reação do público a este vosso novo trabalho?

Sempre. Eu acho que quem não tem medo não arrisca, não é? Mas também quem não arrisca não petisca. Nós sempre fomos uma banda que arriscou, nós nunca nos focámos apenas e só numa estrada, nunca repetimos fórmulas que num passado tivessem funcionado, por isso é que os guitarristas continuam ao final de quase 30 anos de idade a tocar para praças cheias, para teatros cheios. Por um lado temos um vasto universo musical que as pessoas conhecem, felizmente há 10, 15 canções que fazem parte da vida das pessoas, umas mais conhecidas que outras, mas todas elas num concerto normal onde as pessoas conhecem. E depois temos também este lado de poder chegar a um teatro e apresentar um espetáculo completamente novo, sem nada conhecido, e no final o teatro estar a aplaudir de pé. Portanto, esta ideia de por um lado conjugar um passado e uma história que já temos com o público português, e por outro lado tentar conquistar através do novo. Isso acho que é o melhor dos dois mundos para quem faz música. Por um lado ter um universo confortável, cómodo e conhecido e por outro lado ter o novo e o arriscar como diapasão também.

Os concertos deste verão são fora da digressão Coral?

Sim, a partir do momento em que vamos tocar nós temo-nos dividido, e este ano de 2023 felizmente tem-se dividido em muitos concertos para os Gift, mas nós dividimos bem o que é o projeto coral, que é que este que geralmente é feito para teatros, ainda que nós temos uma ideia de num futuro próximo levá-lo a monumentos e a praças históricas de Portugal para trazer esse o Coral para fora dos teatros, mas quando tocamos em palcos ao ar livre, aproveitamos, lá está isso que eu dizia, a história dos Gift, das músicas mais conhecidas, um concerto mais adaptado a multidões, e que é um concerto também que nos dá muito prazer de tocar, porque é aí também que sentimos o pulso às pessoas e sentimos o vigor das músicas dos Gift.

Depois deste verão de espetáculos, o que mais podemos esperar dos Gift?

Bem, nós vamos continuar a apresentar este disco em teatros, vamos fazer duas grandes noites em novembro, nos Coliseus, quer de Lisboa, quer do Porto, onde nós vamos tentar aumentar este conceito do Coral a músicas mais antigas dos Gift, ou seja, tentar transportá-las para este universo, canções um bocadinho mais conhecidas, e depois a nossa ideia era precisamente essa, no próximo ano fazer o Coral histórico, aquilo que seria, transportar estas canções menos conhecidas e as mais conhecidas para este património único que Portugal tem, e que foi, digamos, há uns 20, 30 anos, foi aproveitado, por exemplo, com bandas como Os Madredeus, com a Dulce Pontes, onde tocavam em cercas de castelos, em mosteiros, em praças históricas, em templos, e é um bocado isso que eu quero fazer com o próximo verão, sendo que, no próximo ano também, há uma efeméride que eu gostava de celebrar com conta, peso e medida, que é os 25 anos da morte de Amália Rodrigues e os 15 anos do álbum Amália Hoje, e eu acho que para o ano, podemos fazer uma celebração à séria, quem sabe com músicas novas deste projeto e com concertos novos.

Entrevista: Ricardo Coelho | Foto:Daniel Pina

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