''Não Olhem para Cima'': Jennifer Lawrence, Leonardo DiCaprio e Adam McKay falam sobre a nova comédia da NETFLIX que estreia em dezembro
Imagine que descobria que um cometa estava em rota de colisão com a Terra, e que ninguém queria saber. É essa a premissa de Não Olhem para Cima, a comédia da Netflix a estrear, escrita e realizada pelo oscarizado Adam McKay. O filme faz uso de humor subversivo para pensar e enfatizar alguns dos elementos mais absurdos do momento que vivemos, e os oscarizados Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio fazem de astrónomos, sem grande nome, que partem numa digressão mediática para avisar a humanidade de que se aproxima um cometa que irá destruir a Terra. Por ocasião da estreia do trailer oficial do filme hoje, falámos com Lawrence, DiCaprio e McKay sobre a inspiração para o filme, os improvisos no set, e o elenco de luxo.

Quais foram as fontes de inspiração para o filme?
Adam McKay: O filme tinha de ser hilariante, não bastava ser inteligente ou sardónico, por isso, recorri às melhores comédias de sempre. Filmes como O Insustentável Peso do Trabalho e Terra de Idiotas, que encapsulam na perfeição a forma estranha como vivemos no mundo moderno. Essas duas obras de Mike Judge foram verdadeiros motes para mim. Mas também filmes como Dr. Estranhoamor, Escândalo na TV e Manobras na Casa Branca. A ideia de condensar as tremendas ameaças que enfrentamos no nosso mundo sempre me intrigou, sobretudo quando concretizada de forma a fazer pouco da situação.
O que vos atraiu no filme?
Jennifer Lawrence: Sempre quis trabalhar com o Adam McKay, sou uma grande fã. E, quando li o argumento, achei genial. É bem capaz de ser o mais engraçado que já li. E achei que era uma forma marcante de transmitir esta ideia importante, de que a ciência não tem de ser a causa de conflitos. Temos de travar juntos esta guerra coletiva para salvar a humanidade.
Leonardo DiCaprio: Há muito que queria trabalhar com o Adam McKay. A capacidade dele de aliar a comédia a assuntos imensamente importantes - e logo num filme com a matéria subjacente da crise climática - fez desta uma oportunidade a não perder de trabalhar com alguém que nos permite colaborar e improvisar enquanto atores. O Adam dá valor à opinião de todos e deixa os atores darem a cada cena o cunho que bem entenderem.
Como foi o processo de preparação?
Lawrence: Falei com uma astrónoma brilhante chamada Amy Mainzer. A minha grande curiosidade era saber como era o mundo de uma astrónoma, uma vez que é uma profissão tão dominada pelos homens, e usar isso para influenciar a personalidade da Kate, a forma como ela se veste e a sua postura. Tentei também aprender um pouco acerca de astronomia, mas não sei se retive grande coisa. O Leo, escusado será dizer, empinou tudo.
DiCaprio: A Amy Mainzer foi a nossa consultora, e tive centenas de conversas com ela sobre astronomia. Ela foi uma grande ajuda para eu conceber o Dr. Randall Mindy e saber articular a ciência; foi basicamente uma transferência de conhecimento astronómico para a minha cabeça, do que significa ser um astrónomo, dos objetivos da profissão e da importância de tudo isso para o personagem que represento. Ela foi dos elementos mais úteis para a conceção do meu papel.
McKay: A Amy foi incrível. Foi um ingrediente extremamente importante do filme. Estava constantemente a apurar os factos do guião, e sinceramente, não vejo como poderíamos ter feito isto sem ela. Para mais, tem um grande sentido de humor. Ainda o outro dia ouvi dizer que ela viu o filme e que estava bastante entusiasmada com ele, e essa é, de certa forma, a reação a que mais valor dou. Os cientistas têm sido muito atacados nos últimos tempos, e foi muito bom saber que ela se sentiu ouvida ao ver o filme.
Como foi trabalhar com o Adam McKay?
Lawrence: Ele escreve comédias, por isso, estava sempre a criar material hilariante à medida que trabalhávamos. Foi mesmo divertido receber uma tirada hilariante a seguir à outra.
DiCaprio: Desde O Repórter: A Lenda de Ron Burgundy e Filhos e Enteados que sou fã do trabalho dele. Depois, com o Vice e a transição dele para assuntos políticos extremamente complexos, sem com isso perder as suas nuanças negras, astutas e inteligentes. Este filme é, em vários aspetos, o resultado final da mescla temática e tonal de todas as suas obras até à data. Não é um género em que eu tenha tido grande experiência, e o Adam ajudou-me muito a gerir os elementos humorísticos deste papel.
Improvisaram em alguma cena específica?
Lawrence: Houve muito improviso no filme. O Adam deu-nos toda a liberdade para seguirmos os nossos instintos.
DiCaprio: O Adam deu-nos uma oportunidade interessante para tentarmos de tudo. Eu e a Jen desenvolvemos muito os personagens diante das câmaras, através de improvisos. Houve tantos atores que chegaram com rédea solta para se embrenharem nos seus personagens... Foi incrível trabalhar com gente tão talentosa.
McKay: Um dos grandes problemas da improvisação é os atores começarem a fazer coisas inconsistentes com os personagens que representam e a afastar-se do espírito do argumento. Mas todos os atores tinham perfeita noção da linha emocional dos seus personagens, porque talentos destes têm uma bússola para isso. Nunca comprometeram a realidade daquilo que representavam. Embora algumas pessoas possam achar que o nosso elenco é sobretudo dramático, todos eles foram ótimos a improvisar. Atiraram-se de cabeça para dentro de água e começaram logo a nadar.
Podem dar alguns exemplos?
DiCaprio: Lembro-me de chegar ao set, e o Tyler Perry e a Cate Blanchett já estavam embrenhados numa dinâmica de talk show, como se já estivessem a trabalhar juntos há décadas. Improvisaram uma série de piadas juntos. Não sei até que ponto ensaiaram previamente, mas lembro-me da dinâmica incrivelmente realista entre os dois. Estavam de tal forma embrenhados nos seus personagens, que foi algo incrível de se ver.
E o Jonah Hill e a Meryl Streep, que partilham tantas cenas?
DiCaprio: Não trabalhava com a Meryl desde os 18 anos, altura em que tive o privilégio de a ver representar com mestria um monólogo incrível. Pô-la numa sala com o Jonah Hill, com quem já trabalhei e que considero um dos melhores atores de improviso do mundo, foi muito inspirador. Captaram na perfeição os seus personagens e retrataram-nos como líderes desequilibrados e indignos de confiança, o que foi uma motivação incrível para mim e para a Jen no resto do filme. Foi incrível poder trabalhar novamente com os dois.
Porque acham que a comédia e o entretenimento são ferramentas úteis para comunicar questões sociais?
Lawrence: Não é fácil falar das alterações climáticas e torná-las um tema leve e divertido; pôr a nu as verdades embaraçosas acerca de todos nós cria um espaço sem culpa, em que podemos de facto examinar o assunto e rir dele, em vez de estarmos a apontar o dedo uns aos outros.
McKay: Ao fazermos este filme, houve como que um suspiro de alívio coletivo, por podermos todos rir da insanidade destes últimos 2 (ou 20) anos. E com isso não quero dizer que rir é a única forma de lidar com tempos assustadores ou confusos, mas acho que este filme é mesmo para todas as pessoas que têm vivido neste ecossistema louco e só querem rir um pouco dele, e talvez resolver alguns problemas básicos. Será que ao menos isso conseguimos fazer?
Não Olhem para Cima estreia a 10 de dezembro em salas de cinema selecionadas e a 24 de dezembro na Netflix.
Netflix
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