Balanço final do Festival Linha de Fuga que decorreu em Coimbra

17-10-2022

O festival Linha de Fuga decorreu na cidade de Coimbra entre 16 de setembro e 9 de outubro.

O Linha de Fuga define-se como um Festival e Laboratório Internacional de Artes Performativas que assume em cada uma das suas edições bienais um tema central. No ano de 2020, em plena pandemia, o tema foi a Democracia. Este ano foram as Éticas do Cuidado.

Para Catarina Saraiva, diretora artística da Linha de Fuga, "o balanço é positivo. A nossa intenção é chamar toda a população a assistir à programação que propomos. Houve uma boa adesão, cerca de 70% de taxa de ocupação em todos os espetáculos, muita gente a acompanhar as atividades paralelas, conversas e apresentações de processos". Para além da programação proposta, o festival contou ainda com um laboratório de criação artística com artistas "oriundos de vários países que passaram por vários workshops e tiveram a possibilidade de desenvolver os seus projetos. Esta dinâmica foi também muito importante para a cidade que teve oportunidade de acompanhar processos de criação e investigação e de interagir com vários projetos que estabeleceram várias relações com muitos espaços culturais e comunidades locais", diz-nos também a diretora artística.

Perguntamos a Catarina Saraiva se, no entender da organização, o público entendeu toda esta noção de éticas do cuidado. A diretora artística disse-nos que "creio que o público entendeu sim, pelo menos pelas reações, houve um entendimento sobre a intenção de demonstrar, através da programação, os diversos cuidados aos quais devemos estar atentos. As Conversas Inquietas que fizemos sobre Cuidado demonstraram também uma atenção a este conceito. Basta olhar como se juntavam cada vez mais pessoas à volta da Rádio Baixa para ouvir e participar". E quanto à prática dessa mesma ética do cuidado? Catarina Saraiva faz a sua avaliação "sobre a prática do cuidado, esta já é outra questão, creio que vivemos tempos que nos apelam a um individualismo muito forte e combater essa pressão é muito difícil. Apesar de tudo, consideramos que no âmbito dos artistas programados, todos trabalharam com muito cuidado sobre os seus temas - foi este um lema, convidar artistas que, nas suas práticas, tenham também uma ética de trabalho onde o cuidado seja central".

Depois desta que foi a terceira edição do Linha de Fuga, perguntamos a Catarina Saraiva sobre o futuro do festival. A diretora artística respondeu-nos "a associação Linha de Fuga teve um apoio à atividade permanente por parte do Município de Coimbra muito abaixo do que esperávamos (4.000€ para todo o ano de 2022). Ingenuamente criamos expectativas que este ano teríamos apoios de acordo com a dimensão do projeto, tal não aconteceu. Quando tivemos resposta do ​Município, todo o projeto já estava definido, pelo que, por uma questão ética, não desistimos de nada: da programação, das bolsas a dar aos artistas do laboratório. Tivemos que trabalhar na redução de despesas (e agradecemos a todos os nossos parceiros pelos apoios) mas, ainda assim, terminamos esta edição com um saldo negativo grande para a dimensão da nossa estrutura. Ninguém acredita mas na realidade somos duas pessoas a trabalhar todo o ano para que este festival e laboratório aconteça, ao qual se junta uma equipa que trabalha durante 1 a 2 meses connosco".

Perante este cenário, o que fazer com o festival? Catarina Saraiva deixa-nos a afirmação "vamos voltar a falar com o Município, vamos entrar em sistemas de crowdfunding, vamos apelar a toda a população para nos ajudar mas se não houver reação a possibilidade de trasladar este projeto para outra cidade é uma realidade. Esperamos que não tenhamos que chegar aí..."

©Beware! | Foto: Direitos Reservados

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